Quando,
jovem e tardiamente, comecei a interessar-me pelo que acontecia no
Brasil e no mundo, era pela imprensa que eu buscava informação e
análise. Jornais, revistas e televisão eram as minhas fontes. Se os
meios de comunicação e os seus comentaristas eram disfarçadamente
parciais, política e ideologicamente engajados, tal me escapava. Tamanha
era força da imprensa e do mito da imparcialidade que leitores como eu,
o leitor médio, éramos incapazes de identificar qualquer viés político
de esquerda no conteúdo que nos era apresentado. O que lá estava escrito
nas publicações ou dito em imagens na tevê era, portanto, a
representação fiel da realidade.
Com o passar dos
anos, era natural que eu e tantos outros achássemos que nossas opiniões
individuais eram nossas e não, como de fato eram, meras reproduções da
posição política de jornalistas, comentaristas, enfim, de toda a fauna
conhecida como formadora de opinião.
Quando os
diretores e operários de esquerda da imprensa brasileira decidiam que
tal e qual assunto deveria ser objeto de exposição pública e debate,
expunham-no de uma maneira que o conteúdo direcionasse e definisse a
opinião do leitor ou do espectador. Ao esconder-se sob o falso manto da
imparcialidade, a empresa jornalística enganava os seus consumidores ao
maquiar a forma de apresentar a informação e ao colocar especialistas de
esquerda que defendiam a sua visão de mundo como se ambas, opinião e
visão de mundo de esquerda, fossem a verdade e não a sua imitação
fraudulenta.
Se até poucos anos atrás essa postura
passava incólume, hoje, graças ao bom Deus, uma parcela cada vez mais
numerosa da sociedade brasileira está sendo exposta a essa imitação
fraudulenta da verdade empreendida por parte da grande imprensa e de
organizações cada vez mais atuantes naquilo que se chama de debate
público, que nada mais é, como sempre disse um amigo, debate publicado.
Os
representantes dessas organizações têm uma espécie de sala VIP em
grandes jornais e emissoras de tevê. Não importa o que digam e defendam,
contam sempre com a valiosa ajuda dos grandes canais de comunicação e
assim também conseguem influenciar a produção artística das empresas,
como programas de auditório, séries e novelas. Dessa forma, o
telespectador é submetido a uma grade de programação revolucionária que
gradualmente faz cumprir o seu intento de destruir a imaginação moral,
de mudar mentalidades e, portanto, a sociedade.
Várias
dessas entidades que gozam de prestígio na tevê e na grande imprensa
brasileira são financiadas por um bilionário húngaro-americano que tem
como objetivo promover uma engenharia social mundial que atenda a sua
agenda ideológica e empresarial. Para isso, George Soros não economiza
dinheiro nem esforços. Graças aos vazamentos de documentos feitos no ano
passado pelo Wikileaks e pelo DC Leaks
foi possível constatar a dimensão, ainda que parcial, dessa drenagem de
recursos para organizações, partidos e políticos de esquerda em várias
partes do mundo, dos Estados Unidos, passando pela Hungria até chegar ao
Brasil.
Dias atrás, foi noticiado que Soros fez nos
últimos anos doações que somaram US$ 18 bilhões para a sua organização
Open Society Foundations, nome inspirado no famoso livro A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos (volumes 1 e 2), de Karl Popper, que deve estar se revirando no túmulo em virtude da homenagem.
Até
mesmo para Soros essa doação para a sua própria fundação é algo
impressionante e mostra a seriedade com que ele encara o trabalho
desenvolvido pela Open Society. Como salientou o jornal de esquerda The New York Times,
foi uma das maiores doações de dinheiro já feitas por um doador privado
para uma única instituição nos Estados Unidos. Isso significa que
haverá verba ainda mais farta para as esquerdas nativas potencializarem o
trabalho revolucionário que já desenvolvem.
Nos
Estados Unidos, há anos Soros é um dos maiores doadores do Partido
Democrata. Na eleição presidencial passada, investiu muito dinheiro na
campanha da candidata Hillary Clinton, que perdeu a eleição para Donald
Trump. A vitória de Trump acendeu o alerta vermelho da organização, que passou a trabalhar com um “novo senso de urgência”, segundo disse ao New York Times o vice-presidente da entidade, Patrick Gaspard.
Aqueles documentos vazados no ano passado pelos sites Wikileaks e DC Leaks que
eu mencionei mostraram o grau de influência de Soros sobre Hillary e o
Partido Democrata, que receberam ambos cerca de US$ 25 milhões do
bilionário para a eleição de 2016. Soros é, aliás, um dos maiores
doadores de toda a carreira política de Hillary.
Como
esse tipo de apoio nunca sai de graça e quem decide fazer o pacto uma
hora terá de prestar contas a Mefistófeles (obrigado, Goethe), um dos e-mails vazados
revelou que Soros, mediante um representante, enviou instruções a
Hillary, então secretária de Estado do governo de Barack Obama, para
intervir na política da Albânia, país onde ele tem negócios. Três dias
depois da mensagem, o nome sugerido por Soros, Miroslav Lajcak, foi
enviado pela União Europeia para mediar o conflito entre os rivais
políticos albaneses.
Investindo o seu dinheiro de forma estratégica, Soros também teria orientado políticos do Partido Democrata para fazer valer seus interesses dentro e fora dos Estados Unidos, além de ter tentado manipular eleições na Europa. Ainda segundo os documentos vazados, através da Open Society, o bilionário financiou entidades em várias partes do mundo.
No
Brasil e em outros países da América Latina, a Open Society injeta
cerca de US$ 37 milhões por ano. A Fundação Ford, igualmente notória por
financiar esquerdistas ao redor do mundo, destina US$ 25 milhões para
organizações de esquerda de países latino-americanos.
Esse
dinheiro só vai, porém, para iniciativas que atendam o grande projeto
global de revolução social financiado por Soros, o que significa
promover o aborto, a legalização das drogas e ataques sistemáticos a
todos os costumes, tradições e instituições sociais que de alguma
maneira ainda protegem a sociedade brasileira da ação revolucionária.
Por isso, o apoio cada vez maior a grupos que usam o termo “mídia
independente” para desenvolver de forma radical e inclusive pressionar o
trabalho realizado pela grande imprensa.
Um desses
projetos é a Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação),
que ficou conhecida nas manifestações de 2013 dizendo-se independente,
mas que havia recebido US$ 80 mil da Open Society. Vinculado ao Fora do
Eixo, entidade chefiada por Pablo Capilé,
a Mídia Ninja inaugurou na semana passada a sua nova sede na região
central de São Paulo. Para legitimar seu trabalho, reuniu a fauna e a
flora artística de esquerda. Foi nesse evento que Caetano Veloso tentou
ser humorista: “Algum conservadorismo é necessário. Pode não ser
desejável, mas é necessário”. O cantor e compositor inaugurou com a
frase um novo ofício: bedel do conservadorismo pátrio – mesmo que ele
não faça ideia do que seja conservadorismo.
Outra
entidade que atua na seara da produção de conteúdo é a Agência Pública,
do esquerdista Leonardo Sakamoto, que em cinco anos recebeu mais de R$ 1
milhão da Open Society. É com os dólares de Soros que a Agência Pública
diz realizar um “modelo de jornalismo sem fins lucrativos para manter a independência”. Independência similar à da Mídia Ninja. Sakamoto é autor da célebre frase metafísica: “o que define uma mulher não é o que ela tem ou teve entre as pernas”.
Mas
nessa relação entre imprensa, tevê e organizações financiadas por
George Soros, destaca-se Ronaldo Lemos, comentarista da Globonews,
cofundador e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS
Rio). O ITS Rio recebeu da Open Society US$ 350 mil entre 2014 e 2015.
Lemos foi talvez o nome mais conhecido na elaboração e defesa do Marco
Civil da Internet, que abriu a possibilidade de regulação e de controle
pelo Estado e que foi usado pela Justiça como fundamento jurídico para
suspender o aplicativo WhatsApp.
Outro destaque é a
também comentarista da Globonews (e voz cada vez mais conhecida na
defesa da legalização das drogas) Ilona Szabó de Carvalho,
diretora-executiva e coordenadora do Programa de Políticas sobre Drogas
do Instituto Igarapé. Também financiado pela Open Society, o Igarapé
recebeu mais de R$ 670 mil entre 2014 e 2015.
Em abril de 2015, aliás, houve um evento simbólico dessa relação:
Ilona organizou junto com Pedro Abramovay, sobre quem falarei mais
adiante, um jantar para George Soros no apartamento do casal Florencia
Fontan Balestra e Fabiano Robalinho Cavalcanti, ambos do Instituto
Igarapé. O encontro reuniu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
Jorge Paulo Lemann (3G Capital), David Feffer (Grupo Suzano), Celso
Lafer (advogado e professor), Guilherme Leal (Natura), Ricardo Marino
(Itaú-Unibanco), Olavo Monteiro de Carvalho (Grupo Monteiro Aranha),
Luciano Huck, Carlos Jereissati (Grupo Jereissati), Raphael Klein (Casas
Bahia e Kviv Ventures) e Beatriz Gerdau (Grupo Gerdau). Nesse jantar no
Rio de Janeiro, Soros falou sobre a cultura da filantropia, o que
significa que ele falou sobre a sua cultura de filantropia para
pessoas muito influentes e com muito dinheiro. Além disso, ele
participou de um seminário sobre drogas.
Ainda sobre o
ITS Rio, junto com Ronaldo Lemos integram a equipe Eliane Costa, que
foi gerente de patrocínio da Petrobras de 2003 a 2012 (ou seja, durante
todo o governo Lula); Lucia Nader, que é Fellow da Open Society; e Ana Toni, que integra o conselho editorial do jornal socialista Le Monde Diplomatique Brasil
e que atuou como diretora da Fundação Ford no Brasil de 2003 a 2011
(quase o mesmo período em que sua colega trabalhou na Petrobras).
A
drenagem dos recursos de Soros também alimenta entidades criadas por
aquelas já financiadas pela Open Society. O ITS Rio, por exemplo, criou o
site Mudamos.org, que recebe dinheiro de Soros e orgulha-se de ter
participado da criação do Marco Civil da Internet. O dinheiro entra por
vários canais, mas converge para o mesmo duto. O idealizador do
Mudamos.org é o sociólogo socialista Luiz Eduardo Soares. Ele foi
secretário de Segurança Pública do governo Anthony Garotinho, no Rio de
Janeiro, e secretário nacional de Segurança Pública do governo Lula,
além de coautor do livro Elite da Tropa, que serviu de base para o filme Tropa de Elite. Soares é notório defensor da desmilitarização da Polícia Militar e da descriminalização das drogas, cuja proibição tem como consequência, segundo ele, “a criminalização da pobreza, sem reduzir a criminalidade ou o consumo de drogas”.
Se a pobreza é criminalizada em função da proibição, o sociólogo está
dizendo que os pobres são criminalizados por envolvimento com as drogas?
Não seria esta uma posição altamente preconceituosa e falsa de alguém que se equilibra entre Karl Marx e Michel Foucault?
Outras
organizações que receberam dinheiro de Soros para influenciar a
sociedade brasileira para liberação das drogas foram o Movimento Viva
Rio, que entre 2009 e 2014 recebeu US$ 107 mil para atuar na defesa da
liberação das drogas; e o Instituto Fernando Henrique Cardoso, que
recebeu US$ 111.220 entre 2015 e 2016. O ex-presidente tornou-se a voz
mais famosa a defender a legalização.
Há ainda o
Instituto Arapyaú, fundado por Guilherme Leal, um dos donos da empresa
Natura e que, em 2010, foi candidato a vice-presidente de Marina Silva,
que foi petista por 24 anos até pedir para sair em 2009. Um dos membros
do conselho de governança é o petista Oded Grajew, idealizador do Fórum
Social Mundial (a disneylândia do socialismo latinoamericano),
ex-assessor especial do presidente Lula e coordenador-geral da Rede
Nossa São Paulo, que recebeu US$ 500 mil da Open Society em 2014 e 2015.
A
lista vai além. O projeto Alerta Democrático, que recebeu US$ 512.438
em 2014 da Open Society Foundations, tem na sua equipe o já citado
petista Pedro Abramovay,
que trabalhou no Ministério da Justiça nos governos Lula e Dilma e que
é, vejam só, Diretor Regional para América Latina e Caribe da própria
Open Society. Abramovay também foi diretor no Brasil do site de petições
Avaaz, que ele definiu “como um movimento que tem princípios”, não uma
rede social ou “um espaço neutro”. Por isso, só aceita petições de
causas afeitas à ideologia e retira do ar qualquer petição que vá “contra os princípios do movimento”. Outro integrante da equipe do Alerta Democrático é o ex-BBB Jean Wyllys,
que usa o seu mandato de deputado federal para fazer valer o projeto de
engenharia social mediante mudança de comportamentos de cima para baixo
pela ação do Estado.
O financiamento de organizações
socialistas e comunistas por uma certa elite econômica nem é uma
novidade histórica: os revolucionários russos foram financiados por
grandes empresários para fazerem a revolução de 1917; os nazistas foram
financiados por grandes empresários para conquistarem o poder em 1932;
os petistas foram financiados por grandes empresários até conquistarem o
governo federal em 2002 (a Operação Lava Jato apresenta cada dia mais a
dimensão, por ora incalculável, desse financiamento).
A
agenda de Soros e a das organizações de esquerda é uma só ou converge
em muitos pontos, a depender da organização e do país onde está sediada.
O bilionário financia projetos que se coadunam com sua visão
revolucionária de mundo; os revolucionários aceitam a doação porque o
dinheiro financia o seu projeto revolucionário de mudar o mundo.
O
primeiro a denunciar o projeto global de Soros via financiamento de
organizações de esquerda foi o professor Olavo de Carvalho, a partir do
fim da década de 1990. Muitos artigos sobre o tema foram publicados no
jornal O Globo e depois reunidos no livro O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, organizado por Felipe Moura Brasil e publicado pela Editora Record.
E por que Soros faz o que faz?
Algumas respostas foram dadas pelo autor de Por trás da Máscara, Flavio Morgenstern, no podcast do site Senso Incomum, e pelo também colunista da Gazeta do Povo Alexandre Borges:
“Soros é, possivelmente, o indivíduo sem cargo eletivo mais influente do mundo. (…)
George
Soros se vê como um missionário das próprias utopias e não conhece
limites para usar sua fortuna quase sem paralelo para influenciar a
política, a imprensa e a opinião pública em diversos países,
especialmente os EUA. Como ele mesmo disse, ‘minha principal diferença
de outros com uma quantidade de recursos acumulados parecida com a minha
é que não tenho muito uso pessoal para o dinheiro, meu principal
interesse é em ideias.
(…)
A
Open Society é uma ONG bilionária destinada a influenciar a opinião
pública e a política no mundo. Ela está presente em mais de 70 países é
tão poderosa que, em alguns regimes, é considerada um ‘governo
informal’. Nos EUA, mantém o poderosíssimo Media Matters, que dá o tom
de praticamente toda a imprensa americana, além de ser o principal
financiador do The Huffington Post, um ícone da esquerda mundial.
(…)
O
número de fundações, ONGs, sindicatos e veículos de comunicação que
recebem dinheiro de George Soros ou de suas fundações é tão vasto que só
um incansável pesquisador como David Horowitz para catalogar e publicar
no seu portal Discover the Networks. Se você tiver curiosidade, é só clicar aqui.”
Depois
de descobrir qual é a agenda dessas organizações, quem as representa e
as financia, e a influência que exercem na política, na economia e na
opinião pública no Brasil, cabe a você refletir se aquilo que você pensa
sobre desarmamento, liberação das drogas, desmilitarização da PM,
democracia e outros temas é o resultado de uma análise genuína baseada
em informações precisas ou uma mera repetição de discursos ideológicos
previamente criados por esses revolucionários financiados pelo grande
capital que costumam criticar.
Porque as agendas
políticas que hoje despertam paixões, que provocam “polêmicas” e
discussões nas redes sociais são muitas vezes o resultado de um trabalho
muito bem articulado de instituições e personagens que nem sempre
aparecem ou que aparecem como especialistas imparciais. Convém ter isso
em mente e estar sempre alerta antes de defender determinadas posições e
de agir como inocente útil de uma ideologia e de um projeto político
tão ocultos quanto infames. Não se enganem: hoje, em qualquer canto onde
haja um projeto revolucionário, George Soros está lá.