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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Calma excessiva do Sol pode indicar nova era glacial

26 de maio de 2009 • 12h30 • atualizado às 12h57

O Sol tinha um aspecto liso em Março de 2009 e assim permanece hoje. Esta é a sua fase menos ativa desde a década de 50
O Sol tinha um aspecto liso em Março de 2009 e assim permanece hoje. Esta é a sua fase menos ativa desde a década de 50


26 de maio de 2009
SOHO/National Geographic

Uma parada prolongada na atividade solar levou os astrofísicos a dedicar atenção especial aos seus telescópios para determinar o que o Sol fará a seguir - e de que maneira o clima da Terra pode responder.

O Sol vem apresentando seu menor nível de atividade em décadas e sua menor luminosidade em 100 anos. A pausa solar faz com que alguns cientistas tomem como paralelo a Pequena Era Glacial, um período de frio incomum na Europa e na América do Norte que se estendeu de 1300 a 1850.

O período mais frio da Pequena Era Glacial, entre 1645 e 1715, está conectado a uma profunda queda nas tempestades solares conhecida como "Mínimo de Maunder". Durante aquele período, o acesso à Groenlândia esteve em larga medida bloqueado pelo gelo, e os canais holandeses costumavam se congelar completamente. As geleiras nos Alpes engoliam aldeias inteiras, e o gelo no mar se adensou a tal ponto que não existia mar aberto em torno da Islândia em 1695.

Mas os pesquisadores estão em guarda contra a possibilidade de que suas preocupações sobre uma nova era fria sejam mal interpretadas.

"Os céticos quanto ao aquecimento global tendem a se precipitar", disse Mike Lockwood, um físico especialista nos efeitos do Sol sobre a Terra, da Universidade de Southampton, no Reino Unido. Ele e outros pesquisadores decidiram, portanto, conduzir uma "negação preventiva" quanto a um mínimo solar que levaria a um resfriamento global.

Mesmo que a atual pausa solar seja o início de um período prolongado de baixa atividade, dizem os cientistas, os efeitos da estrela sobre o clima empalidecerão em contraste com a influência dos gases gerados por atividade humana e causadores do efeito-estufa.

"Acredito que seja preciso ter em mente que o dióxido de carbono está em nível entre 50% e 60% superior ao normal, enquanto o declínio na atividade solar é da ordem de menos de 1%", disse Lockwood. "Creio que isso deva ajudar a manter as coisas em perspectiva".

Mesmo assim, acrescentou, pequenas variações no brilho do sol são mais poderosas do que as mudanças na contribuição do efeito-estufa. Por exemplo, uma variação de 50% no brilho do Sol poderia representar a extinção da vida na Terra.

Há centenas de anos os cientistas vêm registrando o número observável de manchas solares como maneira de acompanhar os ciclos de atividade solar, cuja duração média é de 11 anos. As manchas solares, que podem ser visíveis sem telescópio, são regiões escuras que indicam intensa atividade magnética na superfície do Sol Tempestades solares como essas enviam ondas de partículas dotadas de carga elétrica, capazes de prejudicar satélites e até mesmo derrubar redes elétricas.

No atual ciclo, 2008 deveria ter sido o ponto mais baixo, e este ano as manchas celulares deveriam ter começado a mostrar avanços. Mas nos primeiros 90 dias de 2009, 78 não apresentaram manchas solares. Os pesquisadores também disseram que o brilho do sol é o menos intenso dos últimos 100 anos.

O Mínimo de Maunder correspondeu a uma profunda parada nas atividades das manchas solares - os astrônomos da era registraram apenas 50 delas em um período de 30 anos. Caso o Sol entre em depressão semelhante, pelo menos um modelo preliminar sugeriu que pontos frios poderiam surgir em diversos locais da Europa, Estados Unidos e Sibéria.

No evento anterior, porém, muitas partes do mundo passaram sem efeitos, disse Jeffrey Hall, astrônomo e diretor associado do Observatório Lowell, em Flagstaff, Arizona. "Até mesmo um mínimo intenso como aquele não exerceu atividade mundial", ele disse.

Incógnitas e incertezas
As mudanças na atividade solar podem afetar a Terra de outras maneiras, além disso. Por exemplo, a radiação ultravioleta emitida pelo Sol não está se reduzindo da mesma maneira que nos mínimos visuais do passado.

"A luz visível não varia tanto assim, mas a ultravioleta vaia em 20%, e os raios-X podem variar por um de 10", disse Hall. "O que não compreendemos tão nem é o impacto dessa irradiação espectral diferenciada".

A radiação solar ultravioleta, por exemplo, afeta mais as camadas superiores da atmosfera terrestre, onde os efeitos são menos perceptíveis para os seres humanos. Mas alguns pesquisadores suspeitam que esses efeitos possam influenciar camadas mais baixas, que têm papel na formação do clima. Em termos gerais, as pesquisas mais recentes vêm definindo uma situação sob a qual o Sol tem influência ligeiramente superior à prevista por teorias do passado, no que tange ao clima terrestre.

Incógnitas atmosféricas como a radiação ultravioleta podem ser parte da explicação, segundo Lockwood. Enquanto isso, ele e outros especialistas acautelam contra contar com pausas solares futuras como forma de mitigar o aquecimento global.

"Existem muitas incertezas", disse José Abreu, estudante de doutorado no Eawag, o instituto de estudos do clima do governo suíço. ¿Não sabemos até que ponto o clima é sensível às alterações na intensidade do Sol. Em minha opinião, melhor não brincar com aquilo que desconhecemos".


Tradução: Paulo Migliacci ME


National Geographic

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