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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ex-jogador pede revolução contra bancos e atrai seguidores

Outra ótima sugestão...



O ex-jogador diz que vai tirar seu dinheiro do banco nesta terça
Foto: Getty Images




Lúcia Müzell Jardim
Direto de Paris

Conhecido por declarações sobre campos bem diferentes dos de futebol, o ex-jogador francês Eric Cantona - um ídolo na França e na Inglaterra, onde fez carreira - atraiu milhares de seguidores em uma proposta de destruição do sistema bancário. Em outubro, Cantona sugeriu em um vídeo que as pessoas retirassem todo o dinheiro que mantêm nos bancos, e na semana passada o ex-craque prometeu, em entrevista ao jornal Libération, que faria a sua parte nesta terça-feira.

"A revolução é muito simples de ser feita hoje. Ao invés de ir às ruas fazer quilômetros de manifestações, você vai ao banco da sua cidade e retira todo o teu dinheiro", conclamou o ex-atacante da seleção francesa e ídolo do Manchester United, argumentando que se 20 milhões de pessoas decidem fazer o mesmo, o sistema bancário desmoronaria. "É uma revolução sem armas, nem sangue. Estou constatando essa estranha solidariedade que está nascendo, então, sim, no dia 7 de dezembro, eu irei ao banco", reiterou na quarta-feira, ao Libération.

A polêmica foi imediata. Os meios de comunicação franceses repercutiram a declaração e em poucas horas os internautas começaram a se manifestar em sites e em redes sociais, afirmando que fariam o mesmo. "O dinheiro dos bancos é o nosso dinheiro e nós o ganhamos com muito suor. Temos o direito de fazermos o que bem entendermos com ele", disse Jean-Jacques Saliou, uma das pessoas que promete acompanhar Cantona na "revolução". "Não podemos continuar pagando os salários milionários dos grandões das finanças sem dizer nada", afirmou Evelyne Maller.

O rumor aumentou a tal ponto que a ministra da Economia Christine Lagarde comentou assunto, dizendo que "existem pessoas que jogam magnificamente futebol, mas eu não me arriscaria. Acho que cada um tem de se concentrar nas suas competências".

No sábado - quando o número de aderentes à iniciativa em uma página do Facebook chegava a 34 mil -, foi a vez do ministro do Orçamento, François Baroin, ser mais severo nos comentários, chamando a iniciativa de "grotesca e irresponsável". "Cantona como conselheiro financeiro não pode ser levado a sério. Cada um na sua área", disse Baroin.

A ideia de Cantona já cruzou as fronteiras: na Bélgica, a cenarista Géraldine Feullien abriu um site, Bankrun2010.com, através do qual espera conquistar seguidores no mundo inteiro. O endereço tem tradução em oito línguas. "Com ou sem a nossa contribuição, esse sistema bancário atual irresponsável vai explodir mais cedo ou mais tarde. O melhor é nos prevenirmos e agirmos desde já, guardando o nosso dinheiro em casa ou em bens", defendeu Feuillien. "Independente dos resultados desta ação, as pessoas terão a ocasião de pensar sobre o imenso golpe que representa o sistema monetário de hoje. É o momento de se exigir que se construa um outro que seja verdadeiramente a serviço do cidadão."

Apesar da mobilização, especialistas afirmam que as chances de uma catástrofe são mínimas. Mesmo que todas as pessoas que prometem publicamente seguir o ex-jogador de fato retirem as economias do banco amanhã, esse movimento em massa representaria apenas 0,07% da população da França, a contar pelas manifestações na internet.

Antes de mais nada, nem todos poderiam retirar o dinheiro da conta amanhã mesmo, porque os bancos não têm liquidez para isso, ressaltou o economista Jézabel Couppey-Soubeyran, da Universidade Paris 1 - Panthéon-Sorbonne. Ele disse, no entanto, que se 20 milhões de pessoas decidissem retirar o seu dinheiro ao longo de alguns dias, essa atitude colocaria os bancos em risco. "Não é o mais adequado a se fazer para se rebelar, porque, por mais descontentes que estejamos, o nossos sistema todo ainda depende dos bancos."

Sem liquidez, os bancos cessariam os pagamentos e as poupanças dos correntistas seriam as primeiras prejudicadas. Os juros explodiriam e provocariam a alta das taxas de inflação, levando a economia inteira de um país ao desequilíbrio, já que os financiamentos - e consequentemente, os investimentos - ficariam suspensos. A revolução prejudicaria, sim, os bancos, que seriam obrigados a decretar falência. Mas a medida extremista também afetaria gravemente todo o restante da sociedade.

"Essa ideia de Cantona não é nada engraçada. Ela colocaria todo o sistema em dificuldades, e as primeiras a serem penalizadas seriam as pessoas comuns, que não teriam mais acesso ao crédito", analisou Catherine Lubochinsky, diretora do mestrado em Finanças da Universidade Paris II - Panthéon-Assas. "O que ele quer? Que voltemos à uma economia medieval baseada na troca? Há meios de demonstrar insatisfação, mas esse seguramente não é o mais inteligente."

Não foi a primeira vez que Cantona deu palpites em outras áreas além do futebol. No ano passado, ele comentou o endurecimento das políticas de imigração da França e disse que a criação de um ministério da Identidade Nacional era "coisa de idiota". Ele também participou de uma ampla campanha por mais acomodações dignas aos pobres, quando era seguidamente visto criticando as políticas do presidente Nicolas Sarkozy.

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