"As únicas coisas novas são aquelas que foram esquecidas." (autor desconhecido)

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quinta-feira, 7 de maio de 2009

O RIO QUE CONHECI !



O RIO QUE CONHECI !

O Rio é hoje uma cidade arrasada pela guerra, guerra esta que não acabou e vai acabar com a cidade.

Gostaria de dar umas pequenas pinceladas no que era comer no centro do Rio, nas décadas de 50 e 60 e que aproveitei o máximo possível.
Restaurantes para a classe média em geral, mas de um padrão altíssimo, com uma comida divina, trazendo-me saudades até os dias de hoje.

Vamos começar com um sobrevivente, embora fosse melhor nos tempos aqueles que já se foram:

O Bar Luís, na Rua da Carioca (Parece-me que tem uma filial num shopping da Barra da Tijuca). Por incrível que pareça, embora tivesse pratos deliciosos como o kesller e outros da “fauna germânica”, eu gostava mesmo da maionese de batatas (só lá mesmo...) com bolinhos de carne, mostarda preta e acompanhada de um chopp escuro. Ainda existe lá...Experimentem antes que acabe....

Sobre os “falecidos”, tínhamos o Buscky, ali na Rua do Ouvidor, que pertencia ao hotel de mesmo nome existente em Nova Friburgo, e todas às terças-feiras nos serviam um voil-au-vent de frango com arroz nunca visto. Outros pratos também eram fantásticos...

A Casa Americana, na Rua da Quitanda, perto da Candelária. Especializada em carnes, seu filé mignon com batata palha, não tinha rival...

O Restaurante Rio-Hamburgo, num sobrado na Ave. Rio Branco próximo a Rua São José, era bem mais popular, mas nem por isso deixava de ser ótimo. Começava, às vezes, com uma sopa fria, servida num copo, feita com vinho e sagu, bem alemã, depois pequena entrada, que podia ser ravioles, e o prato principal, sempre muito bom.

Um que era incrível, o Dirt Dick Bar, na Rua D.Gerardo, atrás do Mosteiro, perto da praça Mauá. Tinha um aspecto portuário, pois as bancos em forma de “U”, eram separados por tapumes de madeira envernizada, dando certo aconchego. Embora tivesse pratos quentes com o tal feijão garni, o bife a milanesa com creme de espinafre, dentre outros, o”quente” lá era frio, pois nada mais que os “smogborgs” escandinavos. Nem sei descrever esses pratos frios, a base de vegetais e uma gelatina diferente, que eram servido num gigantesco tabuleiro de madeira pelo garçon, onde se podia escolher dentre cerca de seis variedades, toda extraordinárias, a que mais lhe agradasse pelo aspecto. Acompanhava uma cerveja Carlos Weiss, de Juiz de Fora, que, por ser muito boa, foi comprada pela Brahma ou Antártica, e exterminada do mercado. Para sobremesa nada melhor que uma “Juliana vestida”, a divina torta de chocolate com creme Chantilly.

Porque não falar no Bob’s, que começou no início de 60, ali no Largo da Carioca. Seu proprietário e fundador era então um barão “não-sei-das-quantas”, que era o fornecedor do serviço da VARIG (Leia-se Rubens Berta...) Só quem comeu lá naquela época pode avaliar o serviço e a qualidade. Seus atendentes eram praticamente jovens portugueses e não os mamelucos de hoje...Eficiência total! O prato frio, ainda me dá água na boca! Uma maionese de batatas (só superada pela do Bar Luís), frios diversos, mas era o que havia de melhor no Sul e aprovado pela VARIG, roast-beef, e duas torradas quentinha e com manteiga de primeira. Também seus sanduíches de pasta de galinha ou de presunto, além do tradicional ham&eggs faziam a festa...

Para massas havia um bom restaurante no alto do Edifício São Borja, na Ave. Rio Branco, defronte ao destruído Monroe, cujo nome era Espaguetelândia, que, na sua especialidade, foi o melhor que conheci.

Até a lanchonete da MESBLA era de se tirar o chapéu, com seus pratos finérrimos e a possibilidade (ocorreu várias vezes) de almoçar tendo como companheira sentada à sua frente a Tônia Carrero, ainda jovem...

Na Rua São José o forte era a Leiteria Mineira. Logo como couvert, vinha junto um pão preto, mesmo sendo fabricado no Rio, foi o melhor que comi até hoje. Nem em Petrópolis consegui outro igual. Seus pratos, embora mais simples, eram deliciosos.

Talvez tenham me escapado outros locais não tão marcantes, como, inclusive, um bar ali na Rua Visconde de Inhaúma com Rua Uruguaiana, cujos sanduíches de frios creio que superam os famosos de mortadela lá do Marcado Central da Cidade de São Paulo. Neste bar, um sanduíche de presunto acompanhado de uma boa “loura suada”, é bom nem falar. Acho que este ainda sobrevive...

Bem gente, recordar é viver. Uns dizem que não vale a pena, mas pelo menos dá para justificar nossa existência encarnada no planeta, pois tenho dúvidas em encontrar algo parecido “lá do outro lado” tão espiritualizado....Só com perenes orações....e nenhum “smogborg” ou um bom “voil-ao-vent”...


Escrito sob inspiração gastronômica em

Petrópolis-RJ, 25 de agosto de 2007
Leonardo Hanriot Bloomfield

Um comentário:

  1. Leo, essa "Juliana vestida" deveria ser uma delícia, não?... hehehe

    Encantado...

    Abraços e parabéns!

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