"As únicas coisas novas são aquelas que foram esquecidas." (autor desconhecido)

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sexta-feira, 8 de maio de 2009

O CÉLEBRE GREAT BRAZIL EXPRESS



Sr. Adonai Arruda Filho,

Não é minha intenção querer “ensinar o padre a rezar missa”, mas tão somente fazer um desabafo que nunca fiz por escrito em toda minha vida de ferroviário, não sei se por covardia ou comodismo...
Entrei para a EFCB em 1956 como um mísero guarda-de-estação e cinco anos mais tarde era Assessor do Superintendente Industrial da RFFSA, e sem ter acesso ou apadrinhamento de nenhum político da época.
Desde “piá” sempre fanático por ferrovia e até onde consigo me lembrar, desde os três anos de idade. Demência congênita!!!!
Sempre fanatizado por trens de passageiros, ao ingressar, a convite, na RFFSA, descobri o que seria o principal motivo dessa minha atual encarnação aqui no planetinha! Engajar-me no transporte ferroviário de passageiros, que adorava!!! Enganei-me profundamente! Estavam brincando comigo!
Sempre que tinha a péssima idéia de tocar no assunto “passageiros”, vinha o célebre slogan ferroviário desde os anos 50: “PASSAGEIRO RECLAMA..... SACO DE BATATA NÃO!!!”. Só que não estavam nem interessados no transporte de sacos de batatas. Era só o minério da MBR, a soja, o milho e mais algumas coisas... Bem, a RFFSA não existe mais, só eu sobrevivi...
Bem, mesmo com toda essa campanha contra, resolvi, nos anos 70, fazer por conta própria, extra-oficialmente, com ajuda de poucos colegas da área de operação e mecânica (eu sempre fui economista do planejamento, tendo me aposentado como Assessor do Diretor de Planejamento) um pequeno e despretensioso projeto para a operação de um trem de passageiros entre São Paulo (Estação Júlio Prestes na época) e Porto Alegre, circulando, a partir de Itapeva, por um traçado novo do Tronco Sul até a Capital gaúcha.
Os carros seriam os da série 800 construídos pela MAFERSA para a Sorocabana (me apropriei indevidamente de uma composição...), tendo tão somente carros dormitórios, poltronas-leito e restaurante, além do célebre bagagem.
De conformidade com as informações recebidas de colegas da EFS, RVPSC e VFRGS, pela linha já em tráfego naquela época, o percurso poderia ser coberto em 24 horas, ou até menos, e não mais as 71 horas do saudoso “Trem Internacional”, o mais rápido que até então tinha circulado entra as duas capitais, e isto foi entre os anos de 1942 e 1955 (No início, seu ponto final era a cidade de Santana do Livramento). Convém aqui acrescentar que, mesmo naquela época, no trecho da Sorocabana, até Itararé, a média comercial alcançada por este trem, incluindo paradas, era de 47 km.p.h., com tração elétrica de Júlio Prestes até Iperó e a vapor o resto do percurso.
Sobre o Internacional cabe pequena explanação: Foi criado em função de torpedeamento de navios na costa do Brasil, e em assim sendo, teria como levar passageiros para Montevideu e Buenos Aires; era também um trem político criado pelo Governo Getúlio Vargas, para prestigiar o Rio Grande do Sul; caiu Getúlio, caiu o trem....
Com relação a esse meu pequeno projeto, talvez não tenha sido lido pela pessoa certa na RFFSA, e hoje nem sei se essa pessoa existiria lá dentro. Onde foi parar então? Para não me aborrecer mais, foi para o lixo...
Bem, todo esse desabafo vem pelo fato que, depois de ter tido a suprema sorte de ter viajado no GREAT BRAZIL EXPRESS de Cascavel até Guarauna, o que equivale a ter ganho na loteria, voltou a todo vapor o “fogo do trem de passageiro”. Se nós podemos ter um serviço igual aquele que pude saborear com poucos privilegiados amigos, porque não posso ter algo semelhante entre SP e POA? Minha dúvida de hoje é que não sei se seria um trem só para o transporte de pessoas entre as duas capitais, como era o meu, ou algo mais destinado ao turismo, com os requintes do GREAT, e paradas prolongadas para visitas a Vila Velha, Furnas, Lagoa Dourada e tantos outros neste nosso belo Sul do Brasil, a exemplo de um “Al Andalus Expreso”, “American Orient Express”, “The Imperial Express” e tantos outros que circulam em nosso planeta.
Sei que estão detonando nossos carros de aço inoxidável. Não sei quantos sobraram, mas quando vejo trens como o “London Simplon Venice Orient Express” com uma composição de carros dos anos 20, remodelados com esmero, o mesmo ocorrendo com o “Rovos Rail” ou o “The Eastern and Oriental Express”, estou mais do que seguro que a Serra Verde Express tem como revitalizar esse nosso abandonado material rodante que poderia ter mais utilidade trafegando do que se deteriorando em Presidente Altino ou Sorocaba, ou passado a maçarico em Botucatu....
Quando digo que não vou “ensinar ao padre a rezar missa”, é que não sou eu que tenho dizer que teríamos de ter um belo trem da São Paulo para Porto Alegre, pois temos uma boa via férrea, um fluxo considerável de passageiros e muito o que ver turisticamente, da mesma forma que é inconcebível não termos um trem entre Rio de Janeiro e São Paulo. O famoso “Trem de Prata” está em Juiz de Fora jogado à sanha dos vândalos que proliferam no País...
Peço desculpas pelo incômodo desta leitura, mas talvez não tenha combatido de maneira correta no meu tempo de ferroviário e me acomodado. Quero uma vez mais (e ainda voltarei outras vezes...) a agradecer a oportunidade que me foi dada de viajar no GREAT. Até hoje ainda não dei conta de que aquilo aconteceu realmente. Terei tido eu um sonho??? Viajei mesmo no GREAT????
Aproveito a oportunidade para desejar que este projeto da Serra Verde vá de vento em popa, com tudo de melhor que possa receber. Muitíssimo obrigado!!!

Leonardo Hanriot Bloomfield

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